O país vem se beneficiando da elevação dos preços e não do volume produzido para gerar riqueza, mascarando a baixa produtividade e o (des)acúmulo de capital
A despeito das diferenças de nível, a pandemia do coronavírus afetou sobremaneira a capacidade de produção de riqueza de todas as economias do mundo. A expectativa é de que, em 2021, grande maioria das economias terá conseguido superar as perdas realizadas em 2020. Para além de superá-las, o mais importante torna-se a capacidade de sustentação, a qualidade e as condições em que se darão sua produção.
Lamentavelmente, entre os dois períodos comparados, o país criou pouco mais de dois milhões de novos desempregados. Como consequência, o resultado final foi a queda de cerca de 10% na massa de rendimentos real – definida como o produto entre o rendimento real e o volume de pessoas ocupadas. Em outras palavras, menos pessoas empregadas, mesmo que não tendo havido perdas inflacionárias em seus rendimentos, provocou redução do potencial de demanda na economia. O perigo reside no ciclo negativo criado por menos recurso que reduz a demanda e que, por sua vez, impacta diretamente no nível da atividade econômica.
A combinação perigosa entre baixa capacidade de produzir ganhos de produtividade e fraca demanda pode ser enganosamente mascarada pelos resultados positivos do PIB. No desagregado das pesquisas mensais que alimentam o cálculo do PIB, o que chama atenção, desde o início da crise econômica em 2014, é o “descolamento” entre volume e preço das produções setoriais. Dito de outra forma, o país vem se beneficiando da elevação de preço e não do volume produzido para gerar riqueza, mascarando sua baixa produtividade e seu (des)acúmulo de capital. Portanto, todo cuidado é pouco ao se analisar e comemorar os resultados do PIB brasileiro!